O Traumático na clínica de família: uma investigação sobre vínculos violentos

Tipo: 
Dissertação
Palavra Chave: 
Traumático, violência intrafamiliar, Clínica de Família, vínculos.

 

 
A presente pesquisa tem como objetivo compreender o traumático na situação de violência
intrafamiliar, buscando investigar os elementos do arranjo e das configurações vinculares. A
Psicanálise das Configurações Vinculares enfatiza a constituição do sujeito a partir de cada
encontro, reposicionando a impossibilidade de se fazer sujeito sem um espaço social que
componha sua história. Neste sentido, o trauma produzirá diferentes efeitos como inscrição
social e vincular. A metodologia utilizada envolveu a construção do caso clínico de um
atendimento familiar, ancorada no método psicanalítico. A Clínica de Família viabilizou a
escrita do caso clínico, uma história de dor e sofrimento que retrata o vínculo humano, com
enredamentos e narrativas que revelam repetições de cenas violentas. Nesta perspectiva, ouso
construir como caminho de análise o traumático como possível desdobramento deste campo
vinculativo que possibilita a irrupção da violência. As rememorações sobre o caso vão
acentuando o tom da organização familiar, apontando para a malhagem vinculativa em torno
da violência. No encaixe da telescopagem familiar não há fronteiras que organizem os
vínculos, mas há uma configuração que denota a confusão e a ruptura da filiação. Nos núcleos
familiares, onde impera a violência e a agressão, as funções se constituem borradas e os
traumas adquirem contornos transgeracionais. O corpo, marcado pela violência, é a exposição
do traumático na história familiar como lugar que habita todos os excessos e rupturas
transgeracionais. A família-sujeito desta pesquisa vivencia o tempo em alternância. O espaço
analítico vai revelando o tempo para cada “coisa” aparecer e desaparecer; o tempo
fundamental dos lutos e a subjetividade de suas construções; estabelecendo o tempo como
aliado na elaboração do traumático. A telescopagem familiar é acessada no tempo cronológico
e se torna emblemática dos vínculos violentos estruturantes que vão se refazendo no alinhavo
dos sentidos adquiridos na fantasia e na nomeação dos conteúdos traumáticos. Os sentidos das
perdas vão sendo recuperados e uma nova subjetividade pode ser desenhada no campo
transferencial. O acontecimento traumático aponta para a existência intransitiva de um
passado que pode se perpetuar na experiência; entretanto, não há uma correspondência direta
entre a dimensão dolorosa do acontecimento e seu efeito alienante. O trauma interrompe a
narrativa, mas também inaugura uma nova história a partir de novas inscrições. A partir do
fato traumático podem haver reacomodações das fronteiras e do significado de pertencimento
dos personagens do conjunto, com efeitos e ressonâncias que afetam o conjunto em
configurações diversas. O traumático, assim, pode, inclusive, ser o elemento que alimenta
condição constitutiva do tecido afetivo da família. O sujeito na família equilibra-se entre o
acontecimento traumático que marca sua história e as possibilidades criativas de reinventar a

narrativa.

Data da Defesa: 
25/08/2014
Banca/Orientador(es): 
Anamaria Silva Neves
Banca / Examinador(es): 
Isabel Cristina Gomes João Luiz Leitão Paravidini
Discente: 
Layla Raquel Silva Gomes